
Hoje senti vontade de escrever sobre um segmento de trabalho que já deixei lá atrás faz muito tempo, mas que, se analisarmos bem, sempre estará em pauta em todas as outras áreas que atuamos.
Fui desenhista de publicidade por muitos anos, e até mesmo diretora de arte em uma pequena agência. Tive também, por alguns anos, um estúdio de artes gráficas lá no coração da avenida Paulista, aqui em São Paulo. Isso tudo numa época tão remota, na qual dentro de uma agência de publicidade não havia um computador sequer em departamento algum, era tudo feito a unha mesmo, em enormes e saudosas pranchetas de madeira, revestidas de plástico verde, em meio a muitas e muitas tintas, pincéis e papéis maravilhosos.
Nossa… que nostalgia bateu agora ao escrever sobre isso! Chego quase a sentir o cheiro dos materiais, até mesmo da famosa cola de sapateiro que não podia faltar para fazer um bom past-up (a moçada de hoje nem imagina o que era isso!), mas que deixava nossa sala sempre com aquele cheirinho de cola, de benzina. Sim… nós éramos todos cheiradores de cola, no bom sentido, vamos deixar bem claro! 😀 😀 😀
A memória olfativa sempre foi o meu forte. Sinto saudade dos cheiros… dos caríssimos guaches e ecolines holandeses da Talens (não tenho como não citar a marca, pois era padrão de qualidade indiscutível e indispensável a um bom estúdio de arte). E os papéis Schoeller então? Que maravilha! E que luxo era poder usar esse papel todos os dias, numa época em que artigos importados eram complicadíssimos de serem adquiridos aqui no Brasil. E o nanquim e suas canetinhas? Todo o ritual para deixá-las livres dos fatídicos entupimentos! Ah… tudo isso fazia parte, era nossa rotina dentro do estúdio. Mesa de luz, vegetal Gateway, e por aí vai!
Fotoletra, fotocomposição, Letraset… ai ai…que fim levaram!?
Reuniões com os clientes e muitos layouts e artefinais decorrentes disso. Noites viradas para entregar uma campanha a tempo! Tudo isso ficou lá atrás, quando mudei meu foco de trabalho, na mesma época em que a computação gráfica dava seus primeiros passos para chegar ao país.
Mas existem coisas que sempre estarão presentes, como o logotipo, por exemplo, pois em qualquer área que você atue, uma boa identidade visual se faz necessária e você acaba se envolvendo com isso. Sim, “logotipo” e nunca uma “logomarca”, que é um termo errado e redundante, embora muita gente erroneamente o utilize. Isso agora lembrou-me que, já na época, me deparava com algum cliente querendo que eu desenvolvesse uma “logomarca”. Eu desenvolvia “logotipos”, uma de minhas especialidades. Adorava! Eu era boa nisso!
E você pode me perguntar… onde está o erro de “logomarca”, já que esse termo é bastante utilizado? Simples… a palavra “logomarca” é composta de duas palavras “logo + marca”. O termo “logo” significa conceito, idéia, significado, e vem de “Lógos” (grego). E “marca” vem de “marka” (germânico), que traduzido para o latim é “signum”, que é o mesmo que “significado”. Então chamar de “logomarca” seria o mesmo que chamar de “significado + significado”, uma redundância sem sentido. 😮
Já “logotipo” é formado de “logo + tipo”. “Logo” já sabemos o que significa, e “tipo”, vem de “týpos” (grego) que, nesse caso, significa sinal ou símbolo. Então, “logotipo” significa, acertadamente, “símbolo de um conceito”. Esse símbolo deve passar o conceito de uma empresa, que pode ser em forma de letras, palavras, desenhos ou tudo isso junto. Viu só a diferença?
Ah… desde aquela época já existia essa confusão! E nem sei porque me veio tudo isso a cabeça agora! Acho que hoje tive apenas um ataque de nostalgia . Saudade de toda a agitação criativa que era um estúdio de artes gráficas e um departamento de arte de uma agência. Vivíamos às voltas com compassos, gabaritos, esquadros, aerógrafos, e muito mais! Hoje quase tudo é feito digitalmente. Agilizou e evoluiu incrivelmente, óbvio, pois os recursos são muito maiores hoje, mas tirou uma grande parte do glamour que tínhamos na época.
Saudade, muita! De um tempo que ficou lá atrás… 😉

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